Hoje ia escrever sobre a morte do vendedor B2B, change management e a mudança brutal que vem forçando equipes de vendas a se adaptarem.
Mas, como disse John Lennon, vida é o que acontece enquanto a gente faz planos.
Segunda-feira recebi a terrível notícia de que uma pessoa do meu time havia falecido num acidente de carro.
Este tipo de situação provoca uma reação de choque que é difícil descrever. Aquela sensação de que o tempo parou, de que uma nuvem negra desceu e nos envolveu, que não pode ser.
O ciclo do luto é bem descrito nas suas 5 etapas. Negação e descrença é o primeiro. “Não pode estar acontecendo”. (Depois vem a raiva, a barganha, a depressão e finalmente a aceitação).
Em momentos de dificuldade tenho sempre ido buscar referências (direção e até forças) em pensamentos estóicos. Os estóicos têm uma visão muito clara sobre a morte: não temos controle sobre ela. Que devemos praticar a “apatheia” e aceitar a morte com tranquilidade, sem medo ou angústia.
O que me coloca num ponto delicado agora, pois estou na fase de choque/negação do luto e a ideia de aceitá-la com tranquilidade, sem angústia, é muito boa em teoria. Na prática estou aqui lutando com sentimentos que vão e vêm, flutuando entre a negação e a raiva.
Estes momentos de dificuldade também trazem, de forma única, um foco incrível em tudo que é realmente importante. Hoje eu tinha várias reuniões e coisas para fazer na agenda. Ontem pareciam importantes. Hoje, à luz do que está acontecendo, não. Perspectiva.
Fico pensando na dor das pessoas mais próximas, do marido, da mãe, das pessoas da minha equipe que conviviam muito mais proximamente do que eu.
Jean era meu porta-voz para o mundo, era quem me representava, era quem eu mandava resolver questões difíceis, era meu guardião, a pessoa que eu confiava 100% porque sabia que ia me dizer a verdade, mesmo que eu não gostasse ou não concordasse (todo mundo no meu time é assim, mas ele era especial na forma cirúrgica e precisa como via as situações, propunha soluções e defendia ideias).
Raramente compartilho questões pessoais aqui, já passei por muita coisa nestes 30 anos de VM, mas hoje não tive forças nem foco para fazer nada a não ser homenagear alguém que merece uma despedida com todo o carinho do mundo.
Lembro até hoje o momento onde me indispus com quase toda nossa liderança VM quando ele ia ser demitido (por insubordinação, basicamente) e como comprei uma briga enorme para protegê-lo, trazendo-o para baixo da minha guarda.
Pessoas especiais precisam de um ambiente especial. Sabe aquela uva que precisa de terra especial, água, temperatura, mas que dá o melhor vinho? Era o Jean. Pessoas especiais são raras.
Sou daqueles que acreditam que a morte traz algo bom, que é do ciclo natural e que ele está bem. Realmente acredito nisso. E ele merece, porque foi um ser humano nota 10.
Não era assim que eu via seu futuro mas, de novo, somos pequenos. E se alguém maior do que nós decidiu que essa era a forma de chamá-lo, então respeitemos esses planos maiores (mesmo que não entendamos ou, neste momento, não estejamos de acordo).
E ficamos nós, aqui, cuidando do que ficou e tentando viver de maneira a honrar o legado e a lembrança de quem se foi.
Sei que pode parecer redundante, mas estou neste momento emotivo. Preciso reforçar.
Cuide-se. Cuide dos seus. Abrace, beije, ria, chore, se emocione. Aproveite. Coloque as coisas em perspectiva. E honre o legado de quem está nos vendo lá de cima. (e torcendo por nós, assim como nós torcemos por eles). Estamos aqui por um motivo (ajudar os outros) e nessas horas acho que é o mais importante de tudo relembrar isso.
Jean, vai com Deus. Sentiremos sua falta. Você foi 10. Abraço, cara. Espero te encontrar de novo em algum momento para darmos risada juntos.
Nosso time (Nicole, Elizete, Gabriel) vão sentir MUITO sua falta nas reuniões. Todo o time da liderança VM (Marcelo, Karen, Guilherme, Fabiano) estão de luto, assim como o resto do time. Nossos alunos com os quais você fazia mentoria também sentirão, sempre elogiavam sua postura e comentários.
Enquanto escrevo estou escutando QUEEN. Show must go on. É o que estou me repetindo aqui, o que me dá força, o que me dá foco.
Show must go on. Inside my heart is breaking… but the show must go on.
Abraço para você que me lê, desculpe pelo desabafo emocional, obrigado por estar aqui e me acompanhar, me ouvir e me deixar compartilhar e extravasar.
Boa semana e vamos cuidar dos que ficaram honrando quem foi. Show must go on.
“Memento mori”
Raul Candeloro
Diretor
VendaMais
