Estar “sempre ligado” aumenta ou diminui sua performance em Vendas?
Uma das dicas de Vendas que ouço há muitos anos é que, se quiser vender mais, você precisa ligar mais. A questão é que ao invés de ligar mais, que é realmente uma boa dica, o pessoal está “mais ligado”, o que é bem diferente.
Então hoje vou defender uma ideia oposta: desligue se quiser vender mais.
Quando eu era adolescente, fui visitar a casa de dois irmãos, amigos nossos da natação.
Na casa deles a mãe lavava a roupa uma vez por semana. Então eles iam guardando a roupa usada durante a semana e, quando chegava o dia da “lavação”, a mãe pegava as duas pilhas malcheirosas, lavava e devolvia dobrada e cheirosa. E o ciclo recomeçava.
Um dos irmãos era super organizado. Como o quarto deles era pequeno, dobrava as roupas usadas e empilhava cuidadosamente (diria até “com capricho”). Com isso, economizava espaço e ficava com a cama livre.
O outro irmão ia jogando as roupas em cima da cama, empilhando-as numa montanha que a cada dia ia crescendo e que claramente desabaria em algum momento.
O interessante é que, por falta de espaço, ele tinha que fazer isso EM CIMA da sua cama. Ele começava a semana dormindo esticado, com todo o espaço do colchão disponível e conforme a semana ia passando (e a pilha aumentando), seu espaço ia encolhendo. E ele também.
Terminava a semana dormindo todo encolhido, estilo bebê no útero, por falta de espaço.
Sempre me chamou a atenção essa forma diferente que as pessoas têm de lidar com situações na sua vida. Uma delas proativa, a outra totalmente reativa.
Então hoje, quero falar sobre um tema que aflige a todos, principalmente líderes, que é a dupla jornada invisível: quando levamos o trabalho para casa. Não só “trabalho” no sentido de tarefas a fazer, mas “trabalho” de maneira ampla: todo ele. Entramos na nossa casa carregando uma mala invisível de duas toneladas.
A verdade é que, no mundo acelerado de hoje, está cada vez mais difícil separar a linha tênue entre vida profissional e pessoal.
Para muitos, o trabalho não se limita ao horário de expediente, mas se estende para além das horas oficiais, criando uma jornada dupla extenuante e muitas vezes invisível.
Em Vendas isso é cada vez mais comum: usamos o horário fora do expediente para organizar melhor nosso horário no expediente. Isso é muito comum, inclusive, em pessoas de alta performance. Sempre que entrevisto pessoas de alta performance, pode ter certeza que ele/ela tem um horário para revisar dia e semana e planejar melhor o que vai fazer.
Inclusive, revisando valores pessoais, motivação e atitudes, prioridades, metas e objetivos. Isso é fundamental e extremamente positivo.
O problema é quando tudo isso começa a afetar tanto nosso trabalho que parece que 24 hs por dia já não são suficientes.
Acaba que estamos ligados o tempo inteiro e isso claramente cria um ciclo negativo, pois sem ciclos e momentos de recarga, na verdade, estamos diminuindo nossa produtividade, não aumentando.
Essa sobrecarga, conhecida como “carga mental”, é composta por tarefas não remuneradas e frequentemente não valorizadas, que acabam cansando e levando à baixa performance.
Mas por que isso acontece?
Vários fatores contribuem para essa realidade:
- Cultura do “sempre ligado”: A constante conectividade nos torna facilmente acessíveis, mesmo fora do horário de trabalho, gerando a expectativa de respostas imediatas e disponibilidade constante.
- Excesso de trabalho: A pressão por alta performance e a busca por reconhecimento podem levar à sobrecarga de tarefas e horas extras, sacrificando o tempo livre e o descanso.
- Falta de clareza nos limites: A ausência de definições claras sobre horários de trabalho e expectativas de comunicação fora do expediente pode gerar ambiguidade e contribuir para a sobrecarga.
- Confundir “atividade” com “resultados”. #parapensar (para mim o principal erro!).
Quando a carga mental se torna prejudicial?
É importante diferenciar a dedicação extra ocasional (que é positiva), do trabalho invisível excessivo e prejudicial. A carga mental se torna problemática quando:
- Afeta negativamente a saúde física e mental: Cansaço crônico, estresse, ansiedade e até mesmo burnout são consequências comuns da sobrecarga.
- Prejudica a vida pessoal e os relacionamentos: Dificuldade de se desligar do trabalho, falta de tempo para hobbies e lazer. Conflitos familiares podem surgir devido à falta de tempo e energia.
- Diminui a produtividade no trabalho: O excesso de tarefas e a falta de descanso podem levar à queda na concentração, na qualidade do trabalho e na criatividade.
Como lidar com a carga mental de forma proativa, produtiva e positiva?
É fundamental buscar um equilíbrio entre vida profissional e pessoal para evitar os impactos negativos da carga mental. Algumas estratégias que podem ajudar:
- Defina limites claros: Estabeleça horários de trabalho fixos e evite checar e-mails ou mensagens de trabalho fora do expediente.
- Comunique suas necessidades: Seja claro com seus colegas e superiores sobre sua disponibilidade fora do horário de trabalho.
- Aprenda a dizer não: Negociar melhor a questão de assumir tarefas extras ou trabalhar fora do horário de expediente quando necessário é fundamental para evitar a sobrecarga.
- Delegue tarefas: Se possível, delegue tarefas no trabalho e em casa para aliviar a sua carga individual.
- Cuide de si mesmo: Priorize atividades que promovam seu bem-estar físico e mental, como exercícios físicos, meditação e hobbies.
- Busque apoio: Converse com seu/sua chefe e abra o jogo, focando em produtividade e performance.
- Revise processos: Muitas vezes os processos estão errados e a sobrecarga é, na verdade, um chamado de alerta para a revisão urgente desses processos ineficientes ou defasados.
Perguntas de reflexão para terminar:
- Na sua empresa, como tem sido a conversa e a cultura sobre a jornada dupla invisível? Como tem se tratado o trabalho fora do horário de trabalho?
- Além dos 3 pontos que citei acima (saúde física e mental, vida e relacionamentos, diminuição de produtividade), que outros impactos negativos a jornada dupla invisível traz na sua vida?
- Como você tem lidado com esse assunto da jornada dupla invisível: de maneira proativa ou reativa?
Compartilhe seus comentários, são sempre bem-vindos.
E lembre: muitas vezes a melhor forma de melhorar resultados, tomar decisões melhores e vender mais é desligando.
Abraço, $uce$$o e boa $emana,
Raul Candeloro
Diretor
VendaMais
